segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Crônicas


A ÚLTIMA CRÔNICA
Fernando Sabino

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

Após a leitura do texto, formule um comentário e poste-o aqui, enfocando os seguintes pontos:
O que sugere o título do texto? Pode-se imaginar o assunto que o texto vai retratar através dele?
Que situação vemos retratada nesse texto de Fernando Sabino?
Que sentimento ele nos desperta?

Faça sua postagem com clareza! Vamos lá?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Notícias do Enem


Enem
30 de julho de 2012



O Ministério da Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) lançam hoje, 30/7, o guia de redação do Enem, um volume de 48 páginas, divididas em quatro partes:
  1. Apresentação pelo presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa
  2. Detalhamento da Matriz de Correção da prova do Enem
  3. Análise da proposta de redação do Enem 2011
  4. Análise de redações nota 1.000 no Enem 2011.
"A redação no Enem 2012 – Guia do participante" terá inicialmente uma tiragem de 1.600.000 cópias, a serem distribuídas às escolas públicas de todo o Brasil. Haverá também cópias em Braille e na forma ampliada, para pessoas com déficit de visão. O arquivo em PDF será disponibilizado na página do Enem – MEC e Inep.
Foram selecionadas redações que receberam a nota máxima (1.000 pontos) no Enem 2011 e aparecem no Guia com comentários. No Guia, considera-se que seus autores "desenvolveram o tema de acordo com as exigências do texto dissertativo-argumentativo" e demonstraram "domínio da norma culta de língua escrita".
Segundo o presidente do Inep, o objetivo do Guia é "tornar o mais transparente possível a metodologia de correção da redação, além de explicar o que se espera do participante em cada uma das competências avaliadas": "Queremos que o Guia contribua para aperfeiçoar o estudo, exemplificar os critérios e mostrar como se faz uma boa redação".
O Guia foi elaborado pela equipe da Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb) do Inep, em conjunto com especialistas em Língua Portuguesa. É mais uma ação para tornar a correção da redação do Enem mais transparente, aperfeiçoando os critérios de correção e, ao mesmo tempo, ampliando o quadro e o treinamento de avaliadores, com a participação efetiva das universidades e institutos federais do país.
Além de lançar o Guia de redação, o Inep publica uma Chamada Pública para convocar as instituições de ensino a fazer estudos e pesquisas em avaliação educacional e psicometria relacionados às provas aplicadas. O objetivo do edital, mais uma ação estruturante do Inep com vistas ao aperfeiçoamento das políticas públicas na área, é subsidiar diagnósticos mais precisos e induzir mudanças nas práticas de gestão e ensino, por meio de melhorias nos sistemas de avaliação escolar. O valor total do edital é de R$ 2 milhões.
Assessoria de Comunicação do Inep